quarta-feira, 15 de abril de 2020

Porta e Postigo



Foto do livro História de Sorocaba de Aluísio de Almeida que eu comprei há pouco tempo pelas imagens - principalmente essa - que ele traz, como essa janela espetacular do século XVII, austera, divina, com o postigo alto, na parte alta da janela, para que a intimidade do interior da residência não fosse jamais devassada, mas deixava, porém, que o ar entrasse arejando o ambiente familiar.
Imagino que as mocinhas deveriam subir em bancos e só os olhinhos delas ávidos de vida, aparecessem no alto do postigo vislumbrando a rua, o movimento, o mundo.


(Cresci ouvindo essa palavra, postigo. Abra o postigo, feche o postigo, não abra a porta, abra o postigo, veja quem é pelo postigo, não deixe o postigo aberto, não deixe o postigo fechado. - está vendo? se o postigo estivesse fechado certo alguém não tinha entrado, se o postigo estivesse aberto dava para ver quem estava chegando... tá chovendo? abra o postigo pra ver. A chuva parou?olhe pelo postigo... vamos dormir, feche o postigo.
Eu acho que hoje ninguém sabe o que significa postigo, muito menos a sua finalidade e a função: resguardo. 
E alguém sabe o que é resguardo hoje?)

2 comentários:

  1. Jorge

    Gostei muito da sua imagem da janela dessa casa setecentista, que poderia estar nalguma terra portuguesa. O texto que escreveu está muito bem. As janelas e as portas das casas antigas são um tema inesgotável. Permitem-nos a passagem para um mundo que já aconteceu, para um tempo em que as senhoras e as filhas só saiam à rua para irem à missa ou fazer uma visita e sempre acompanhadas. O tempo era ocupado em lavores domésticos, porque as mulheres sérias, tinham as mãos sempre ocupadas, mas talvez num momento de ócio pudessem espreitar pelo postigo, para ver quem passava na rua, mas sem serem vistas, mantendo assim as suas reputações.

    Por cá houve uma pintora, a Maluda, que nos anos 80 se dedicou a pintar janelas e teve um sucesso comercial extraordinário e as suas pinturas foram copiadíssimas e percebe-se porquê. As janelas, portas e postigos são sempre intrigantes.

    Um abraço lisboeta

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  2. Obrigado, Luís. Vou ver os quadros de Maluda, nunca ouvi falar dela por aqui. Imagine que a casa foi demolida...deveria ser lindíssima, totalmente no original. A janela já dá a nota. Austera, a vida lá dentro deveria ser totalmente previsível, monotonia horrível e assim os dias se passavam. As mulheres com as vidas apagadas, o postigo era uma luz, uma internet.
    Um abraço de um brasileiro de máscara.(Nem no postigo eu estou chegando kkkkk).

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