quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Elis Regina . Programa do Show Transversal do Tempo . 1978


Encontrei por esses dias este programa do show de Elis Regina, o Transversal do Tempo. Uma surpresa total!!!! 
Adorei na época, o disco do show, mas o disco anterior, o Elis, eu não curti. Como imaginei que o show Transversal do Tempo teria como base as músicas daquele disco, não me interessei de ir ver o show quando ele foi apresentado aqui em Salvador, no Teatro do ICEIA.
O Elis de 1977, eu achei um disco pesadíssimo, triste, encucado, como estava a cabeça de Elis naquele período. O Brasil não estava nada fácil também, principalmente para alguns artistas como ela. Então, fazer um disco e um show altamente engajado politicamente, reivindicatório era o que Elis queria fazer e fez. O show era ou foi a contribuição de Elis Regina, como artista e como pessoa, para falar sobre o Brasil daquele momento, como ela via aquele momento.
 Hoje eu entendo o show como um alerta para a desintegração, a desvalorização do país e da sua natureza, de suas matas, animais, índios, o povo simples, o operário, a massificação, os trabalhadores no qual ela estava incluída, sufocada e engolfada como artista, vivendo na "selva das cidades" e lutando para sobreviver.
Sim, voltando. Não quis ir assistir ao Transversal do Tempo. Estava eu, também, "de férias de Elis Regina", como disse Caetano Veloso na época. Ele - com toda razão - não curtiu a forma como ela interpretava a música Gente, meio que ridicularizando a letra. Elis estava sem humor naquele período. Se a música não fosse engajada, ela achava fútil. Gente se fosse cantada seriamente não destoaria do todo do show, afinal e no final, o povo brasileiro quer brilhar mesmo, existir e não morrer de fome. Viver com dignidade. Mas Elis, ou quem orientou ela na direção do show e na elaboração do roteiro, não viu ou não quiseram que ela visse qualidades na letra de Caetano.
E eu não fui ver o show com meus amigos, lá no teatro do Barbalho. Depois eles me falaram maravilhas, tipo "você perdeu etc. e tal. "ela estava uma loucura", "cantando divinamente, pra variar, afinadíssima"..."cantava uma música num tom altíssimo e correndo de um lado pro outro do palco - a música Corpos de Ivan Lins e Vítor Martins - sem parar..." achei uma loucura... só Elis mesmo pra fazer tal feito. E sem desafinar.
Mas nada me abalou. Quando o disco ao vivo saiu eu fui logo comprar e adorei. Que ódio!!! Eu deveria ter ido kkkk, com certeza, vendo o show,  minha resistência iria ter fim, nocauteada pela maravilha de ver Elis em cena e cantando com aquela vontade e gana que ela tinha quando entrava no palco.
Mas, Elis, sempre mudando e partindo pra outras, no disco seguinte o Essa Mulher, - ela já era uma nova Elis, uma nova mulher - já me arrasou, já caí de 4, me enlouqueceu e o show seguinte no TCA eu não perdi.  
E aquela foi a primeira e última vez que vi Elis Regina ao vivo.







 Uma máquina Hermes - sou o feliz possuidor de uma até hoje! - e um Caravan. Carro imenso que dava para mil famílias. E o cachorro. Coisas da época na transversal do tempo. Ainda nem se imaginava, em 1978, um computador nas casas, corriqueiro como um liquidificador, internet, cruzes!, celular...ficção, misericórdia! Creio em deus padre! Hoje a gente vive o final do tempo. Nada de bíblico pelo amor. Final de linha. O tempo se esvai e se consome e não temos tempo nem de refletir se estamos numa reta ou numa transversal, o momento anterior, o que foi? e o seguinte, o que será? não temos ideia. Nem causa e consequência tem resultado, não dá em nada e se der, nada. É um final nada. Nenhum. Embaralhou o meio de campo e segue assim. Melhor seguir - vamos! - senão ficamos...ficamos? como? As coisas que eu sei de mim?
Caminhemos, talvez nos vejamos depois.
Talvez nos vejamos, quem sabe. 
Quanto tempo. Pois é. Quanto tempo.