quinta-feira, 16 de março de 2017

João Alves . O Engraxate Pintor

 Quando entrei em um prédio no centrão de Salvador, levando uma enceradeira para consertar, isto mesmo, uma enceradeira, ainda sou um feliz possuidor deste jurássico eletrodoméstico, me deparei com uma escada linda e bem anos 50. A fachada do prédio não me disse nada, tanto que nem me interessei em fotografar, mas a escadaria e naquele tom de azul meio turquesa, achei o máximo e... clic!  
No hall interno do prédio, pregado nas paredes havia vários quadros, entre eles dois de João Alves, pintor baiano que fez uma longa carreira aqui em Salvador. Surpresa total!
João Alves faz parte do folclore da cidade, foi estivador, depois engraxate e, nas horas de folga, entre um sapato e outro a engraxar, ficava pintando os seus casarios e cenas de rua do Pelourinho, do centro antigo com suas igrejas, o povo do lugar. Muitos intelectuais da época acharam João Alves o máximo e começaram incentivar e a comprar os seus trabalhos que logo se tornaram valiosos. João Alves fez exposições, produziu muito, vendeu muito e morreu nos anos setenta...pobre. Hoje as suas obras são vistas em museus, galerias, em leilões e vendidas a preço alto.
Pelo que li, foi Pierre Verger, o fotógrafo francês, quem primeiro percebeu o talento do engraxate, comprou uma de suas obras e o incentivou a pintar, o mesmo fizeram Odorico Tavares, Jorge Amado e outros bambambans da época.
João Alves era um negro belíssimo, alto, musculoso. Será que Pierre Verger não o fotografou? A única foto que vi do artista é esta que está aqui. Pierre Verger marcou bobeira em não eternizar através de sua câmera o belo João Alves. Uma pena!
Há uns cinco anos, eu acho, visitei uma exposição retrospectiva do trabalho de João Alves no Museu de Arte da Bahia, um dos melhores de Salvador. Salas inteiras para João Alves.
Este ano visitando o magnífico Museu AfroBrasil em São Paulo vi várias obras do João Alves expostas. 
João Alves é destaque, é sucesso, é cifra. Da Praça da Sé em Salvador para o mundo. Uma pena que, em vida, o pintor não tenha usufruído financeiramente do seu trabalho.



Estes dois quadros estão no edifício que visitei. O casario deve ter sido um dos últimos trabalhos de João Alves, pois ele morreu em 1970.


Igreja de São Pedro dos Clérigos - parece - no Terreiro de Jesus. 1962.

 A escadaria que me levou a João Alves.






O belo pintor em ação.


Obras de João Alves arrastadas do Google.


Acho que esta pintura se chama Incêndio no Pelourinho, é linda!


Obra de 1970, simplesmente bela com o efeito quadriculado desses andaimes cortando a frente das casas.








 O Cruzeiro e a Igreja de São Francisco.

E João!