O Correio da Bahia está fazendo 40 anos e os arquivos fotográficos do jornal estão sendo revirados, revisitados e motivo para matérias ótimas que contam um bom período da nossa cidade, com as suas transformações para melhor ou para pior, seja no que se refere ao patrimônio arquitetônico - o que caiu, o que não caiu - o que se levantou, o que foi pelos ares, o que o fogo queimou, os costumes e hábitos que se mantiveram, mudaram ou acabaram etc.etc.
Esta foto é do Pelourinho em 1993, antes da grande reforma iniciada no bairro quando ele foi reformado, "revitalizado" e a população local foi realocada, sumiu.
Nos anos 70 e 80 eu e meus amigos da época íamos muito ao Pelourinho que tinha bares ótimos, como a Galeria 13 e nunca, nunca, nenhum de nós foi agredido pelas pessoas pobres que habitavam lá. Hoje, "revitalizado" quando eu tenho que passar por lá, passo ligado de olhos bem abertos, pois o Pelourinho virou um lugar visado por malandros que vivem atrás dos turistas para roubá-los. Não quero ser confundido com turista... mas, das últimas vezes em que fui lá, notei uma melhora porque há muito policiamento.
Mas nem queria falar sobre isso. Queria mesmo era mostrar esse lindo casarão de esquina e as casas geminadas que se estendiam ao longo das ruas e que lá se mantiveram por séculos porque foram habitadas pelas pessoas pobres que lá viviam. A "revitalização" só se deu, na verdade, porque eles eram usados, mantidos em pé bem ou mal, de uma forma ou outra, por aquelas pessoas pobres: eram habitados, enfim.
O Pelourinho nas duas décadas em que lá andei com mais frequência era uma delícia, mesmo com a pobreza da população local.
Hoje eu credito ao crack a violência que impera em todos os bairros de Salvador e o Pelourinho vai junto nessa onda e, principalmente, por ser ou ter virado um centro de turismo onde os visitantes vão com um pouco mais de dinheiro no bolso.
Mas, viva o Pelourinho! É lindo aquilo ali, uma joia que precisa sempre ser cuidada, polida.
Srta. Mutel, uma beleza dedilhando!!!
Srta. Arethusa, a graça, elegância e beleza aliadas.
Srta. Ely, não conteve a sua alegria para a objetiva, satisfeita que estava no grande dia da sua formatura.
Essa matéria na revista Vida Doméstica de março de 1954 sempre me enlouqueceu, me deu ataques de riso quando eu vi e li e fiquei estupefato, espantadíssimo com o número imenso que havia de mocinhas - e devia ter mocinhos também - que aprendiam a tocar o acordeão - instrumento da moda nos anos 50.
A foto, uma "vista parcial", KKKKK, com uma multidão de mocinhas recém formadas em professoras de acordeão é uma loucura!!! A entrada do Teatro Municipal do Rio, a escadaria repleta, uma multidão querendo ficar na moda!!
João Donato começou a sua carreira tocando o instrumento, tem disco gravado como acordeonista, um disco lindo por sinal, e acompanhava muitos cantores com o seu acordeão.
Quando eu era menino sempre tinha umas festinhas em que surgia uma menininha ou um menininho que tocavam o acordeão. Era uma maravilha.... "a filha e o filho de fulano de tal tocou na festa, foi uma beleza..."
Infelizmente essa febre pelo instrumento passou. Por mim continuava...
O acordeão ficou restrito às músicas de São João, músicas da época junina. Mas tem um compositor, cantor e instrumentista moderno - e ótimo - que se acompanha com o acordeão, Marcelo Jeneci, que é um barato.
Tem os acordeonistas franceses antigos que são ótimos, o instrumento que era a cara de Paris. Sous le ciel de Paris...
Amo essa matéria, Acordeão, Instrumento da Moda. Há anos queria colocar aqui.
E a professora, Sra Maria Amália Tristão Tote !!! Deveria jogar duríssimo com as alunas.
-Meninas, toquem com vigor, estão desafinando horrores, preguiçosas, toquem como vigor, já disse!!!
Vista parcial...imagine se fosse a total. Seria o Municipal inteiro! KKKKKK
Depois do último post com a bela Carmen Mayrink Veiga, aqui vai a imagem de outra bela e elegantérrima, d. Yara Andrade que, acho, foi a grande amiga de Carmen.
A foto é da coluna de Hildegard Angel - só podia ser de lá - quando a jornalista ainda escrevia para o Globo, 1984.
E eis que de um pacote surge uma imagem de Carmen, meio estragadinha, marcada, mas que, acho eu, não está entre as 236 postagens que fiz aqui no blog da mais elegante e bela mulher brasileira.
A foto é da revista Caras e, suponho, ser de um evento na Casa Julieta de Serpa no início dos anos 2000.
Carmen Mayrink Veiga, para variar, estava o luxo e a beleza de sempre.
(um leitor aqui do blog escreveu para esclarecer: a festa foi na casa de d. Lily Marinho que comemorava os 200 anos da vinda da Família Real para o Brasil.
O acontecimento foi matéria da revista Caras de março de 2008.
Aproveitei e "arrastei" do Google a mesma foto de Carmen Mayrink Veiga que escaneei dos meus guardados, mas que está meio estragadinha pelo tempo e uma foto da anfitriã d. Lily na ocasião da festa quando recebeu seus convidados na linda casa do Cosme Velho nos bons tempos do velho Rio de Janeiro).
Dona Lily de Carvalho, maravilhosa, inteligente e elegante mulher.
Bolo Carro, criação e execução de d. Cândida Lacerda. Mais uma bonita e imaginativa criação da artista/confeiteira que tentou com chegar o mais próximo possível o modelo deste carro anos 30/40, por aí.
Este bolo confeitado parece-me que foi feito moldado na própria massa do bolo que, recortada e coberta com a glace foi sendo dada as formas arredondadas do carro antigo. Era todo comestível, portanto, pois não tinha armação. Note-se que na parte de dentro tem um bonequinho fazendo o motorista.
Uma beleza este bolo carro confeitado que deve ter sido para aniversário de menino. E deve ter dado um trabalhão a d. Cândida! Mas, o sucesso junto à petizada, na hora do parabéns, deve ter recompensado a canseira.
Esses trabalhos das confeiteiras antigas, ingênuos, que usavam poucos recursos e difíceis de trabalhar - se a glace não dava ponto era uma tragédia!!! - pra mim não se comparam com bolos confeitados de hoje, perfeitos demais, frios, e a cobertura parece uma borracha. Os antigos têm as maravilhosas imperfeições do trabalho todo feito a mão. E tem mais: eram uma delícia!
Abaixo dois carros americanos "último tipo" sonho dos meninos e concretizado em açúcar por d. Cândida Lacerda naquele antigo aniversário.
O bolo confeitado acima foi obra de d.Cândida Lacerda, que não conhecia, mas que deve ter sido uma boleira, artista e confeiteira das boas, de mão cheia, daqui de Salvador, mestra na arte de fazer bolos, arquiteta de sonhos doces e confeitados que faziam a alegria da petizada, das debutantes e dos mais velhos em bodas.
D. Cândida deveria seguir os ensinamentos da boleira mor do Brasil, Dolores Botafogo, que publicou inúmeros livros - muitos dos quais já postei aqui - que fazia modelos incríveis e variados sobre diversos temas e todos eles serviam para serem cobertos da glace tradicional e mais deliciosa feita de açúcar, clara de ovos e limão como se fazia naquela época.
Usava-se o recurso das armações estruturadas em madeira leve que depois eram recobertas da glace branca ou coloridas com aqueles tons lindos e exagerados das antigas anilinas e sobre as quais se colocavam os vários enfeites, os padrões de bicos decorativos de confeitar - perlê, pitanga - kkkkk e mais as rosinhas, flores, bolinhas peroladas, prateadas, douradas, pássaros, bonequinhos de cera e etc. e etc. Uma riqueza total!
Eu fui a vários aniversários que tinham esses bolos e eu achava uma maravilha!!! Ao vê-lo em cima da mesa, ao centro, eu fazia o meu momento catatônico, fixando o meu olhar de petiz sobre aquele bolo/sonho tornado realidade e "viajava na glace" kkkk
Depois dos parabéns - naquelas datas queridas - ele era repartido e ficava capenga, destruído, sem a forma original, as estruturas de madeira expostas... O sonho acabava, mas, comê-lo era uma obrigação e delícia e depois lá ficava ele sem a forma original e a parte comestível já nas barriguinhas dos satisfeitos convidados.
Este bolo Cine Jandaia me deu uma tristeza! Um cinema que serviu para tema de festa, motivo para bolo confeitado e que só trazia alegria para a nossa cidade, hoje está como nas fotos abaixo que fiz ( menos a primeira em zoom). Outrora um luxo, o cinema que era teatro também - Carmen Miranda se apresentou lá em 1932 (com meus avós paternos na plateia), hoje é o retrato desgraçado do abandono.
Propriedade privada, depois de muita luta o governo comprou, tombou e, hoje, ele está lá esperando ruir de vez, desabar.
Se se fizesse um Bolo Cine Jandaia hoje, depois de pronto, dariam-se vários socos e amassos para adequá-lo ao seu estado de decadência atual.
Esta foto do bolo de d. Cândida saiu em uma matéria da revista Muito do Jornal A Tarde de novembro de 2008 que tratava do assunto bolo e de confeiteiras daqui de Salvador. Tem uma outra foto de época de um bolo de d. Cândida, o Bolo Carro - super bonito - que depois posto aqui. Hoje fico no bolo Cine Jandaia lindamente confeitado reproduzindo o seu antigo esplendor e nas fotos abaixo que mostra as suas ruínas, o seu tristíssimo final.
(Essas duas fotos do interior do tenebroso cine fantasma/Jandaia são do Google.)
Um cafezinho,
1 colher de chá de melaço de cana,
1 colher de chá de açúcar demerara. Mexe.
Água com gás,
Um pouco de suco de limão,
2 cubos de gelo.
E é só isso.
Ficou ótimo. Refrescante! Ah!!!
O próximo vou colocar só o melaço, 1 colher de sobremesa.
O Mazagran, ou "café gelado", é bebida ótima para aguentar a canícula de Salvador que está, como já disse Nelson Rodrigues, de derreter catedrais.
No mais, esta é a minha homenagem a Madame Francine!
Capa do bloco de papéis Universitário que, apesar de ser dos anos 70, manteve uma capa bem antiguinha, com desenho bem bonito tipo anos 30, de uma romântica e sonhadora dama em um convés de navio e em tom de azul muito leve e suave.
Resta a cartinha a ser escrita.
Essa receita de Mazagran dada pela Madame Francine é bem prática. O limão deveria ter, acho, mas o rum, o hortelã e o açúcar - o xarope - na receita simplérrima dela não têm e, por isso achei ótima! Quem não tem cão caça com gato e é uma boa fazer em casa sem salamaleques.
As outras receitas do Mazagran com o café adoçado, suco, raspas de limão, gelo, rum, e cubos de gelo na água gasosa fazem o café gelado.
A origem do Mazagran é argelina. Há uma variante portuguesa e a austríaca que não leva o hortelã.
Depois do sinistro infeliz, ela teve a feliz ideia de servir um Mazagran bem simples - brasileiro? - que, no calor do Rio caiu muitíssimo bem!
No mais, a Madame Francine ainda teve a gentileza de servir uma bebida à jornalista que foi entrevistá-la no meio dos escombros. Foi muito elegante e mostrou a superação dela depois de perder o que a segurava na vida: sua coleção de antiguidades.
E com esta receita do Mazagran encerro a série de postagens que fiz com a impressionante história de Madeleine Francine Biberia, a Madame Francine.
Essa página do Jornal do Brasil de 14 de setembro de 1980, me foi enviada por um amigo que morava no Rio de janeiro na época. Ele ficou impressionadíssimo com a história da Sra. Madeleine Francine Biberia, a Madame Francine. E eu quando recebi a página do jornal pelo correio e li, fiquei também espantado com a história, perplexo e, também, com uma grande admiração por aquela mulher.
Algumas coisas que ele diz são espetaculares à respeito da sua coleção, o porquê da sua paixão pelos objetos de arte antigos, milenares, o porquê da sua coleção, busca de uma vida inteira pelo mundo todo.
No outro post eu disse que havia ocorrido uma fatalidade em relação à perda da sua coleção, na verdade ela foi vítima de alguém que tentou matá-la e destruir o seu patrimônio. Bem, para saber o que foi que realmente aconteceu só lendo esta matéria que foi escrita por Susana Schild e com fotos de Agnaldo Ramos que documenta o caos que se tornou o apartamento de Madame Francine.
Esta folha de jornal é de 1980, portanto o fato ocorreu há 39 anos! A folha resistiu...
Procurei saber sobre a vida de Madeleine Francine Biberia e as poucas coisas que descobri foi a sua data de nascimento, 07.03.1919 na Romênia, que veio para o Rio de Janeiro em 1955, casou-se com o psicanalista Gerson Borsoi que faleceu um ano antes do ocorrido no apartamento do casal. Madame Francine veio a falecer no Rio de Janeiro em data não precisa.
Em 1957, Madame Francine escreveu um livro de suas memórias que está à venda na Net em sites estrangeiros.