Adorei essa foto de Dora segurando o seu último lançamento em disco, seu último carnaúba, o seu mais novo microsulco em 78 rotações. Será que foi na época de "Baralho da Vida" um dos grandes sucessos de cantora? A radiola é uma maravilha, toca disco de gaveta, embutido em um móvel moderno. A notícia, 30 dias pelo norte " é demais! Ela deve ter aproveitado a turnê e "caitituado" o disco gravado para o carnaval. Dora deve ter voltado exausta para o Rio, isto é, para as noites do Rio.
Aqui tem de tudo! Grande variedade de sortimentos, um grande stock de produtos para agradar a seleta freguesia deste meu magazine de utilidades, inutilidades. Um bazar, um balaio da semana ou de todos os dias sempre em liquidação - para troca de stock e renovação do meu manejo sustentável de papéis velhos fadados ao lixo. Eu gosto. Há quem gosta. Tenho um lado traça, me perco entre as páginas de revistas e livros amarelados, esfarelando entre os dedos, se indo, fenecendo mas, antes disso, colho, salvo. Amei o esta foto foi colhida... de Dora Lopes! Dora Lopes era uma cantora dos anos 50, tempo em que meus pais eram jovens, portanto, não é uma cantora de "meu tempo", mas me lembro de ouvir lá por casa e em referência à Dora, que "ela tinha a garganta de de ouro", era "a cantora da garganta de ouro" e eu, inocente petiz, imaginava uma cantora com a garganta dourada, brilhante, toda de ouro. Dora Lopes era uma riqueza, então! Nos anos 70, mesmo com a moda retrô quando eu desencavei cantores e cantoras antigas do tempo de meus avós e pais, Dora Lopes nunca "pintou". Mas era um nome sempre lembrado, mas a voz, músicas etc. nunca me liguei. Agora, lendo o A Noite de Meu Bem de Ruy Castro, fiquei sabendo que ela era nos anos 50, uma cantora e compositora moderna para a época, sem aquele vozeirão e vibratos e que pertencia a um time formado por Nora Ney, Dóris Monteiro, Dick Farney, Lúcio Alves, todos cantores afinadíssimos, de voz pequena e modernos pra época. Faziam rádio, mas eram nas boites e clubes noturnos que tinham o seu público maior. Não eram cantores de multidão, mas, de "multidinhas". Em Belo Horizonte no início do ano, comprei em um sebo duas revistas Alterosas dos anos 50 e, em uma delas, estava a foto que tô jogando aqui no meu artigo do dia, no meu balaio de recordações, do meu stock e que as traças não tiveram tempo de devorar. Eu cheguei primeiro!
Vi esta postagem no Facebook e tratei de arrastar, pg. de Danian Dare. Não sabia do 25 de maio... Que coisa maravilhosa este antigo atelier de costura de final do século XIX ou início do XX e em pleno funcionamento! As Contramestras de costura, as costureiras, as bordadeiras, as ajudantes todas na faina diária com as linhas e as agulhas, esquecidas de si e concentradas no delicado trabalho da confecção de um vestido. Cada uma deveria ser responsável por uma parte. Li um livro de Ecléa Bosi - Memória e Sociedade - Lembranças de Velhos, em que uma senhora entrevistada pela autora dizia que, quando mocinha, passava o dia inteiro em um atelier de modas no centro de São Paulo fazendo meio ponto ou ajour. Imagino que fosse mais ou menos assim, não sei se com este luxo do atelier da foto, mas o ambiente sim, de concentração. Imagino também que ficar o dia inteiro fazendo ajour deveria ser super monótono, mas safava a onça da humilde mocinha. Ecléa Bosi. O livro que citei é um dos me ficam sempre a mão. Sempre volto a reler uma parte, adoro os relatos dos velhos entrevistados e os detalhes preciosos do dia-a-dia de um mundo que não existe mais e ficou só na memória. Guardei uma entrevista dada por Dona Ecléa ao Estadão em 2003. O título é, "A Nostalgia é um Direito do Cidadão". Concordo totalmente. Mas sem resvalar para a melancolia.
Desenho de capa do livro Música ao Longe de Érico Veríssimo, editado pela Globo em 1947. Não há menção ao autor da ilustração. O selinho é da Livraria Freitas Bastos do Rio, onde o livro foi comprado na época.
Gente, vamos participar do sorteio! Além de colaborar para a construção do Seminário Central da Bahia, podemos ganhar um Kaiser de Luxo! Eu já adquiri o meu cupom!
Esta foto está em um livro de contos e crônicas e achei interessantíssima: uma rainha do rádio anônima entre trezentas mil princesas idem. Aliás, nunca vi uma fartura tão grande de princesas naquele evento máximo nas rádios do Brasil que era o dia da coroação da rainha. Em todos os estados brasileiros havia rádios com programas de auditório e todas tinham o seu cast de estrelas locais. Esta foto pode ser de uma dessas muitas rádios que existiam por ahaí, isto é, do Arroio ao Chuí. Que cantora, eleita e coroada Rainha do Rádio, seria esta? De qual Estado? De qual estação? Onde ela trinava ao microfone, pelo amor de deus?? Êxito não teve, porque o rostinho não me é familiar. Ela nunca foi ou nunca chegou a ser da Nacional. Será que era da Rádio Cajuti? Tantas perguntas, tantas conjecturas, dei tanta asa a minha imaginação, viajei tanto, mas, jamais terei a resposta. E tudo por causa de uma foto antiga e mal impressa - gosto ainda mais por isso - de um antigo livro.
A matéria é do Correio da Bahia, 25 de novembro de 2003, escrita por Éden Nilo que disse tudo sobre o que significou a Dona Maria José para Salvador, para as lavagens, para as festas de largo, e para as baianas que participam com fé de todas as festas religiosas, populares e sincréticas da cidade. Dona Maria José era uma atração à parte nas festas, sempre alegre e sorridente, simpática e sempre de alto astral. No cortejo do Bonfim, usava um lindo traje de baiana, muito bem feito, com aquele bordado inglês bem miudinho, uma riqueza! Dona Zezé era uma autêntica baiana! Eu adorava ela e sempre ficava aguardando a sua aparição nas festas. Sempre filmada pelas televisões, dava entrevistas, um barato! Dona Maria José era louca por Antonio Carlos Magalhães que, acho, a recíproca era verdadeira: se abraçavam, se beijavam. Quem resistia a autenticidade de Dona Maria José?