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domingo, 16 de dezembro de 2018
Um Pequeno Imperador do Divino Espírito Santo
Esta foto é espetacular por vários motivos. Ela é de uma época em que se comemorava o dia de Pentecostes, a vinda do Espírito Santo à rigor, com todos os passos da cerimônia tradicional. A festa, uma tradição portuguesa, se realiza aqui em Salvador também, lá no bairro de Santo Antonio. A festa, com o passar dos anos tem perdido o seu brilho, seu esplendor e riqueza: hoje é mais simples. Nesta foto, feita em Jacobina, Bahia no ano de 1953 dá para perceber o deslumbramento que era a festa realizada naquela cidade do interior baiano desde o século XVIII. O garoto vestido de Imperador - em azul e branco como está descrito - está impecável em seu traje composto de meia, calça de cetim curta e bufante, blusa que deveria ser de veludo com aplicações douradas, o cinto, o manto curto também de veludo que deveria ser ricamente bordado e com um grande laçarote arrematando. Nas mãos, um cetro representando o poder do imperador. Uma beleza!
Para completar, o garoto está apoiado em uma mesinha coberta com - simplesmente - uma pele de onça pintada e, em cima do tampo, está a coroa em prata lavrada, linda, de mais de 150 anos, símbolo da festa do Divino Espírito Santo. A coroa fica durante um ano na casa do "Imperador", em lugar de destaque, esperando o ano seguinte quando é levada para a casa do novo Imperador que irá novamente reorganizar a festa.
Isto tudo, esta grande produção para os festejos do Divino Espírito Santo, aconteceu em Jacobina, cidade que prezava as tradições católicas, pelo visto, da maneira mais tradicional. E a família deste garoto desta foto se esmerou naquele ano para abrilhantar a festa.
A festa do Divino naquela cidade deve continuar suponho, mas não sei se com o mesmo aparato como ela foi descrita no livro "Caminhos Percorridos - Adhemar - De Caatinga do Moura a Jacobina", editado em 2003. O livro conta a vida do Sr. Ademar Silveira Carvalho Silva e foi escrito por sua esposa d. Alcira Pereira Carvalho Silva. Naquele ano de 1953 o sr. Adhemar foi o Imperador coordenando a festa e o menino é o seu filho Ubirajara vestido como o pequeno imperador.
Neste dia é solto pelo imperador um preso da cadeia pública, como premio pelo seu bom comportamento.
Uma coisa interessante neste livro é a descrição de caçadas que se fazia nos arredores de Jacobina e a citação de onças e muitos outros animais que haviam por lá. Esta pele de onça que está na foto pode ser de uma das mortas por lá. Hoje, acho que não há mais nenhuma onça para contar a história.... a caça está proibida há muitos anos, mas elas devem ter acabado, infelizmente! E a festa do Divino Espírito Santo, a Festa de Pentecostes, como andará depois de tantos anos?
D. Alcira descreve com detalhes a riqueza que era a festa quando toda a cidade se movimentava em torno dela. É um documento precioso! Ao escrever a biografia/homenagem ao marido, Adhemar, a autora foi além das simples lembranças e reminiscências familiares e fez um livro de memorialista, pois ali estão as tradições católicas, o folclore, a culinária, hábitos, costumes do povo do lugar, a paisagem, flora e fauna...marmelos que eram abundantes...onças pintadas descansando sobre as árvores... Se onças havia o meio ambiente estava equilibrado, pois ela está no topo da cadeia alimentar.
Comprei este livro por acaso, na rua, na "mão" daquelas pessoas que armam barracas para vendê-los. Comprei por preço irrisório, aliás, eu não ia comprar, mas, quando vi a foto do menino à caráter de Imperador, comprei imediatamente! E foi uma delícia ler o livro, histórias de uma família e de uma cidade, de seus costumes e tradições.
Jorge
ResponderExcluirEm Portugal as festas do Espírito Santo estão ainda muito vivas na ilha Terceira, nos Açores e delas fazem também parte as coroas e os imperadores. Por toda a ilha construíram-se umas capelinhas muito bonitas, os impérios, onde se venera o Espírito Santo.
Talvez em Jacobina existisse uma comunidade de descendentes de açorianos da Ilha Terceira.
Espreite este link para saber mais sobre as festas do Espírito Santo nos Açores.
http://www.monumentos.gov.pt/site/DATA_SYS/STUDYandDOCUMENTS/NORMAL/da746d0b-f751-4b93-acad-fd95fd88ef28/Artigo%20final.pdf
Um abraço
É verdade, pode ser, mas onde tem muitos descendentes de açorianos no Brasil é em Santa Catarina. Aqui em Salvador a comemoração acontece todos os anos no bairro de Santo Antonio Além do Carmo. Acho que em toda Bahia ainda se faz todos aqueles rituais para o Divino, mas creio que com menos força porque o Brasil virou um país evangélico!
ResponderExcluirNo livro da d. Alcira ela fala das festas para Nossa Senhora, de Santo Antonio, São João, São Pedro, São Benedito, além do Divino. Eram festas o ano inteiro. Hoje devem estar bem menores, resistindo à força protestante.
Vi 3 vídeos no youtube de famílias açorianas que celebram o Divino. É exatamente igual à descrita por d. Alcira.
Obrigado,
Abraços.