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domingo, 25 de março de 2018

Uma Batina Negra de Padre


Há muitos anos comprei em um bazar de igreja esta batina negra de padre. Guardei. 
Há muito tempo que pretendo doá-la ao Museu do Traje do Instituto Feminino da Bahia e é isto o que irei fazer incontinente esta semana que entra. Guardar tecido não é moleza, não é fácil, eles se degradam se não têm um tratamento e acondicionamento adequados e, estando comigo, se bem que muito bem guardada em uma caixa, não daria certo por muito tempo a mais. E quem sou eu para conservar têxteis em casa? Já não basta a papelada???? Os jornais?? As revistas velhas???
Não sou museu de vestuário, mas quando vi esta batina maravilhosamente bem trabalhada e costurada em uma alfaiataria de escol e de tradição aqui da Bahia - Alfaiataria Araújo -, não pude resisti e tive que comprar. Ela é muito bem feita, um primor. O tecido parece ser uma gabardine de seda. O peito todo em pregas exatamente e obsessivamente iguais, perfeitas e que no quadril se abrem dando um leve evasé. O ponto da máquina miúdo e firme. Os punhos arrematados por rico bico de algodão, com certeza, "francez".
A abertura da batina de cima abaixo é fechadas com colchetes e botões de metal negros. O forro é uma maravilha de perfeição, costuras internas super bem feitas. Dois bolsos embutidos nas laterais. Riqueza total! E eu fiquei guardando esta maravilha mas...para quê? No carnaval não iria usar e padre não serei numa altura dessas. 
Sábado numa ida a um sebo encontrei no "balaio de ofertas" e a preço de ocasião o livro, A Cor do Sangue de Brian Moore, editado pela Companhia das Letras em 1988. O que me chamou a atenção foi a capa, com a figura de três padres em movimento e de batinas negras e recortados em fundo branco. Lembrei imediatamente da minha "batina de estimação" guardadinha em casa e, como a muito tempo queria postar fotos dela, resolvi fazer uma misturinha da capa e da minha batina. E aqui vai.
Interessante também neste livro é que a tradução dele é de Tati de Moraes, a primeira mulher de Vinícius.
Batina vai, livro vem.


Nota: na verdade, trata-se de uma beca de formatura. Doei a peça para um museu do traje aqui de Salvador e a museóloga me disse tratar-se de uma beca e não de uma batina de padre.
Resolvi não mudar o título da postagem, fica esse mesmo que coloquei na época.






Me lembro que nos anos 60, ainda menino, era comum ver-se padres usando batinas negras nas ruas. Hoje não mais. Nos anos 90 me lembro de um padre que andava pelo centro de Salvador com a sua boa batina e um chapéu negro. Foi o último que vi com o traje tradicional.



Em determinada época o bico descosturou e alguém afoito repregou com ponto de alinhavo e em linha branca. Péssimo! Nota 0 pro afoito. Ou afoita.



 Bico em puro algodão "francez". Brasileiro é que não é.


O lado de dentro, o forro. Vejam a perfeição, tem até umas pregas internas, acho que pra darem um certo volume.






Uma etiquetazinha em algodão presa no ombro.



Um dos padres da capa do livro. Corre!!!!!




A parte interna.






Um dos bolsos laterais e embutidos.


A costura do punho. Participação especial, a minha mão!




Pregas religiosas. Perfeitas!!!!!!!!!!!


E que se abrem a partir da cintura dando um jogo e amplidão à batina.


Um outro bolso embutido e lateral.


O bico pregueado e preso em ponto Paris por dentro do punho das mangas. É uma batina requintada, alta costura eclesiástica.
Participação: meus dedos!


Um dos padres da capa do livro que deve ser de ação. Corre padre!!!!


Abaixo a tal da capa do livro que me lembrou da "minha batina de padre" e me lembrou que tenho que doá-la, pois comigo ela não poderá ficar mais. O museu é o lugar dela e ela será de todos.


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