Anúncio em O Diário de Notícias, Salvador, novembro de 1967. Me lembro de uma fábrica da Crush na Avenida Fernandes da Cunha, Mares, mas já pertinho do Largo de Roma. Tinha uma vitrine grande na porta e a gente passava e via o maquinário e as garrafas na esteira para receber as tampinhas. O refrigerante Crush, de laranja, era uma delícia!
Há muitos anos comprei em um bazar de igreja esta batina negra de padre. Guardei. Há muito tempo que pretendo doá-la ao Museu do Traje do Instituto Feminino da Bahia e é isto o que irei fazer incontinente esta semana que entra. Guardar tecido não é moleza, não é fácil, eles se degradam se não têm um tratamento e acondicionamento adequados e, estando comigo, se bem que muito bem guardada em uma caixa, não daria certo por muito tempo a mais. E quem sou eu para conservar têxteis em casa? Já não basta a papelada???? Os jornais?? As revistas velhas??? Não sou museu de vestuário, mas quando vi esta batina maravilhosamente bem trabalhada e costurada em uma alfaiataria de escol e de tradição aqui da Bahia - Alfaiataria Araújo -, não pude resisti e tive que comprar. Ela é muito bem feita, um primor. O tecido parece ser uma gabardine de seda. O peito todo em pregas exatamente e obsessivamente iguais, perfeitas e que no quadril se abrem dando um leve evasé. O ponto da máquina miúdo e firme. Os punhos arrematados por rico bico de algodão, com certeza, "francez". A abertura da batina de cima abaixo é fechadas com colchetes e botões de metal negros. O forro é uma maravilha de perfeição, costuras internas super bem feitas. Dois bolsos embutidos nas laterais. Riqueza total! E eu fiquei guardando esta maravilha mas...para quê? No carnaval não iria usar e padre não serei numa altura dessas. Sábado numa ida a um sebo encontrei no "balaio de ofertas" e a preço de ocasião o livro, A Cor do Sangue de Brian Moore, editado pela Companhia das Letras em 1988. O que me chamou a atenção foi a capa, com a figura de três padres em movimento e de batinas negras e recortados em fundo branco. Lembrei imediatamente da minha "batina de estimação" guardadinha em casa e, como a muito tempo queria postar fotos dela, resolvi fazer uma misturinha da capa e da minha batina. E aqui vai. Interessante também neste livro é que a tradução dele é de Tati de Moraes, a primeira mulher de Vinícius. Batina vai, livro vem.
Nota: na verdade, trata-se de uma beca de formatura. Doei a peça para um museu do traje aqui de Salvador e a museóloga me disse tratar-se de uma beca e não de uma batina de padre. Resolvi não mudar o título da postagem, fica esse mesmo que coloquei na época.
Me lembro que nos anos 60, ainda menino, era comum ver-se padres usando batinas negras nas ruas. Hoje não mais. Nos anos 90 me lembro de um padre que andava pelo centro de Salvador com a sua boa batina e um chapéu negro. Foi o último que vi com o traje tradicional.
Em determinada época o bico descosturou e alguém afoito repregou com ponto de alinhavo e em linha branca. Péssimo! Nota 0 pro afoito. Ou afoita.
Bico em puro algodão "francez". Brasileiro é que não é.
O lado de dentro, o forro. Vejam a perfeição, tem até umas pregas internas, acho que pra darem um certo volume.
Uma etiquetazinha em algodão presa no ombro.
Um dos padres da capa do livro. Corre!!!!!
A parte interna.
Um dos bolsos laterais e embutidos.
A costura do punho. Participação especial, a minha mão!
Pregas religiosas. Perfeitas!!!!!!!!!!!
E que se abrem a partir da cintura dando um jogo e amplidão à batina.
Um outro bolso embutido e lateral.
O bico pregueado e preso em ponto Paris por dentro do punho das mangas. É uma batina requintada, alta costura eclesiástica. Participação: meus dedos!
Um dos padres da capa do livro que deve ser de ação. Corre padre!!!!
Abaixo a tal da capa do livro que me lembrou da "minha batina de padre" e me lembrou que tenho que doá-la, pois comigo ela não poderá ficar mais. O museu é o lugar dela e ela será de todos.
As mãos de São Lázaro atravessando a claridade vinda da janela da Igreja de São Domingos para o Terreiro de Jesus. Fiz essa visita no dia 18.02.2018. Vamos lá ver a beleza que ficou a igreja depois de restaurada. As fotos não estão lá essas "coca-colas", mas...deram pro gasto!
O altar. A igreja voltou ao seu antigo esplendor. Fiquei super feliz de ver aquilo que durante anos foi um monte de escombros e que não dava nem para perceber a sua riqueza. Fazia dó. Agora ela voltou a brilhar. Está perfeita.
O estandarte da Ordem Terceira de São Domingos, é claro, refeito, pois, o original deveria ser todo bordado em fios de ouro. Agora tem passamanaria dourada e tinta também dourada. Mas, só recompor o antigo estandarte, já valeu!
São José.
Imagem de São Gonçalo, imagem rara deste santo e, esta, é simplesmente linda e riquíssima.
Santa Rosa de Lima.
Nossa Senhora do Carmo.
Um quadro do Senhor do Bonfim e um cofre/mesa para receber doações ao santo. É claro que fiz a minha pequena colaboração.
Abaixo, fotos da sacristia com São Domingos sentado, imagem de roca, recebendo quem lá entra. O cachorro e o rosário são os dois atributos do santo. A prática de rezar o rosário foi divulgada e popularizada pelo santo espanhol.
Uau! Mesa em jacarandá, enorme e muito, muito bonita.
Os pés da mesa zoomorfos, um belíssimo trabalho de escultura.
Um dos puxadores do arcaz.
Nossa Senhora das Dores em altar na parte de cima do arcaz na sacristia da igreja.
Água benta - e limpa - na belíssima concha em mármore rosa. É raro ver agora essas bacias de água benta nas igrejas e, quando há, muita gente não mete o dedo mais para se benzer com ela. Essa estava tão fresquinha que...benzi-me até não mais poder! Quando criança a primeira coisa que se fazia ao entrar em uma igreja era procurar logo a água benta para se benzer. Sinto falta desse hábito. Na igreja de São Domingos matei a saudade.
Uma mesa com duas imagens de santos, restauradas e prontas para varar o século.
Um São Domingos. O outro, São Francisco. São imagens riquíssimas, restauro perfeito. Como fui na igreja com um amigo, não fiquei anotando os nomes dos santos, pois ficamos andando pra cá e para lá. As fotos não ficaram muito boas, são de celular, prefiro fotografar com a minha máquina. Muitas fotos estão desfocadas, mas tudo bem. Na próxima visita, faço melhor.
Uma imagem de Cristo Ressuscitado.
Nossa Senhora do Rosário.
São Tomás de Aquino. Imagem pra lá de deslumbrante!!!!! Uau! Mil vezes uau!!!
Imagem de São Martinhode Porres ou de Lima, santo peruano dominicano, sobre uma mesa pequena que eu amei.
São Francisco, imagem de roca
Nesta capelinha ao lado, onde fica o salão das imagens de roca era o lugar onde estavam sendo celebradas as missas durante todos os anos - e foram muitos anos! - em que a igreja ficou abandonada, caindo literalmente aos pedaços, em estado de total decadência. Eu fui lá uma vez e vi os pombos voando dentro da igreja, morcegos. Tudo desabando, um horror. Fiquei surpreso com a restauração, já que a igreja sendo uma Ordem Terceira, portanto, particular, o restauro poderia demorar ainda muito mais a sair. Mas, saiu! Graças a São Domingos a igreja resistiu ao abandono, não desmoronou e, hoje, está um esplendor. Voltou o esplendor.
São Domingos em roca. Pensei que essas imagens com o cachorro fossem imagens de São Roque, mas não são. Nesta sala estão todos os santos de roca que saíam às ruas nas outrora riquíssimas procissões da irmandade. Há muitos armários com vitrines onde as imagens ficam guardadas, muitos deles estão vazios, talvez as imagens tenham se deteriorado muito ou, quem sabe, podem estar ainda em restauro.
Santa Paula.
Santa Rosa de Lima.
Salão das imagens de roca. Ao centro Nossa Senhora da Boa Morte no esquife. É demais esse arranjo das imagens. Emocionante.
São Lázaro. Escultura espanhola, com certeza, super bem feita. O rosto, as mãos e os pés lindos.
Não lembro o nome dessas duas imagens.
Os armários vazios, com pintura linda de flores por dentro. E cadê os santos que deveriam ali estar?
Santa Rosa de Lima, imagem de roca.
Corrimão de escada com um repuxo deslumbrante esculpido em jacarandá. Uau!!!
A pia batismal.
E agora, abaixo, um passeio pelos jazigos com suas lápides em mármore lindas e trabalhadas. Adoro os nomes das pessoas que lá estão enterradas e de suas famílias, nomes antigos e que saíram de moda, nomes que se perderam no tempo. Em toda igreja antiga que eu vou gosto de fotografar esses jazigos perpétuos, não acho mórbido fazer isso, acho interessante o trabalho das lápides e dos nomes dessas pessoas das antigas famílias baianas.
Euthália!
Paulílio!
E a Igreja de São Domingos e o povo a passar. Era verão, muita gente, muito turista e poucos visitando a igreja. Enquanto eu estava lá, e fiquei muito tempo, uma família entrou com seus pimpolhos e, de repente, se foram. Para eles deveria haver coisas mais interessantes no Pelô.
Tenho agora de ir em mais 3 igrejas restauradas: a de Nossa Senhora do Pilar, mais conhecida como igreja de Santa Luzia pela grande devoção que há nela, a Igreja de Santana e a Igreja do Passo. A Igreja do Boqueirão eu já fui depois do restauro, fiz umas fotos, mas não sei se coloquei aqui. A Igreja do Corpo Santo eu fiz uma postagem antes do restauro que, no momento, a igreja está passando. Igreja minúscula, mas linda. Aliás, o que não falta em Salvador e em toda a Bahia são igrejas pequenas ou grandes, mas belíssimas. Algumas foram e estão sendo restauradas, algumas têm projeto de restauração em andamento e, outras, muitas outras estão esquecidas,"caindo pelas tabelas" desabando e pedindo a morte. Todos os santos,valei-nos!