Se dizia muito a palavra sortimento em referência ao estoque de uma loja. Se a loja era boa ela era sortida, com variado sortimento de artigos que lotavam prateleiras e balcões a encantar os fregueses. Lojas que tinham de um tudo.
E todo mundo comprava e elegia a sua loja preferida.
-Só compro na Saffilhos, pois é mais sortida, muita variedade e tem também, o "Artigo do Dia"- as promoções.
-Pois eu prefiro a M Kraychette, vende mais em conta e é muuuuito sortida.
Se dizia muito "sortir a despensa", pois a mesma deveria estar vazia. O marido sortia a casa. Hoje a mulher surte a casa.
Nos aniversários, mesa farta "muito sortida" com vários doces e salgados: a dona da casa não fez feio, botou pra quebrar, gastou os tubos, o que podia e não podia e sortiu a festinha. Os convidados saíam elogiando.
Se não tivesse fartura, a festa, sortida é que não esteve. "Horrível, não tinham nada pra servir". "Era melhor não ter feito!"
-A geladeira está vazia, uma "igreja". Tenho que sortir.
O verbo sortir e suas variações está fora de uso.
E sortimento, o substantivo, já não tem a fartura de antigamente quando as lojas primavam pelo seus "stoks".
Perdeu a substância.
Hoje se diz, diferenciada. Eu não pronuncio esta palavra.
Odeio.
Por esses dias vi na televisão uma liquidação de calcinhas em uma loja de São Paulo. Em um grande balaio uma tabuleta: "Calcinhas Sortidas" e o preço.
No comércio, pelo visto, a palavra sortimento ainda está na ordem do dia.
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