sábado, 18 de dezembro de 2021

Uma Casa Velha

Adoro essas casas dos anos 20 ou 30 do século XX. Elas estão rareando, todas sendo demolidas para dar lugar a uma nova construção em estilo caixote de interior amplo para abrigar qualquer comércio. E assim a cidade se desfigura e assim exemplares da arquitetura das antigas casas de família vão desaparecendo.

Passei por esta casa e vi um movimento de operários e pensei, vão demolir! Tratei de fotografar, mas, algum tempo depois, lá  estava ela toda pintadinha de novo no seu vermelho, o vermelho que parece ser o original, realçado, avivado e, então, imagino que a demolição que virá, com certeza, não será de imediato.

Que bom!

Eu amo esses adornos de fachada moldados em cimento que dão ideia de um balcão sob a janela. Enfeitam, embelezam.  Pintados, ressaem os desenhos de flores e guirlandas tão bonitos e de gosto tão nostálgico...quem morou ali, quem era a família que viveu ali os seus dias até vendê-la para alguém que não a usa como morada - a casa parece ser de alguma instituição e funciona como uma repartição, sei lá.

Quem ali viveu bons e dramáticos acontecimentos?

Lembro da crônica de Hidelgardes Vianna que descrevia as casas de antigamente e o "janelar" todos os dias dos seus moradores, pelas mocinhas e tias velhas apreciando o movimento da rua. Para "janelar" bem e por muito tempo se usava uma almofadinha para não machucar os cotovelos. Tinha muita coisa para apreciar...Nas procissões e dias festivos estendia-se uma toalha adamascada.

E assim seguia a vida de quem fazia da janela uma tela de cinema.

Foi-se esse costume tão prosaico e, hoje, fazer uma janelada pode resultar em incômodo, assalto, invasão da casa, um deus nos acuda qualquer. Socorro! Tempo tenebroso como me dizia um amigo e tão diferente do ingênuo tempo do "janelar" das antigas casas de família.


Ô de casa!

 Participação especial, a fiação da iluminação pública que tece verdadeiras teias e emaranhados sem fim e poluem visualmente toda a cidade. Um horror! Os fios são tantos que se destacam mais que o objeto fotografado. Socorro!

2 comentários:

  1. Jorge

    Que casa tão bonita. Realmente morar numa dessas casas, era um prazer especial. Quem mora num destes grandes blocos de apartamentos está sempre condenado a uma certa banalidade. Já morei em edifícios modernos e casas antigas e sei que nas últimas, consegue-se sempre fazer uma decoração de interiores mais criativa e parece que as casas tem alma.

    Achei muita graça a esse hábito antigo, que refere de as pessoas estarem à janela. No meu prédio, existia uma velhinha, que depois de terminados os seus trabalhos da lida da casa, aí pelas 17 horas ia postar-se à janela, até 19.00, horas de fazer o jantar. Aquele tempo à janela era o seu momento de distração, de repouso das tarefas domésticas. Via quem passava, conversava com as vizinhas, que estavam nas outras janelas e se fosse preciso metia conversa com algum transeunte.

    Também eram janelas bonitas, em casas com pouca altura e dava prazer estar à janela. Quem vive num 10º piso obviamente não vai postar-se á janela.

    Um abraço e bom Natal

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  2. Luís, querido amigo. Estou sempre no seu blog, mas não tenho respondido. Já vi o último da gravura em perspectiva que era pra ser vista através de uma lente. Acho uma coisa tão moderna, um zoom, uma terceira dimensão, só que feita à mão. Linda.
    É esta casa, como falei deram uma repaginada, uma pintura, então, por enquanto, ela continuará la. Ainda bem!!!
    Pra vc também, Feliz Natal, apesar do tempo tão tenebroso. Espero que renasçamos todos.
    Um abraço soteropolitano.

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