sexta-feira, 28 de junho de 2019

Uma Família Emoldurada


Foto deslumbrante de uma família - talvez paulista - servindo de decoração a um brechó chique - rua Augusta - em São Paulo. A foto, colorizada com esmero, deve ser dos anos 20 do século passado, dedução que me vem pelas roupas e penteados dos membros da elegante família. As menininhas estão já usando os vestidinhos curtos, levinhos - até despojados e simples - e com os joelhinhos à mostra. O menino chiquérrimo de "paletot" azul marinho com debrum branco e camisa interna e calça curta de linho. Está um luxo o garoto. A mamãe muito bem composta em azul celeste e meião grosso. Dupla volta de pérolas no pescoço. Rendas. O salto grosso do sapato sustenta o peso da jovem senhora já com cara de matrona. Atrás, o papai, o provedor discreto, apresenta orgulhoso a família a sua frente.
Gente muito bem, de prol, de escol, de jaez, de truz em um belo instante emoldurado e suspenso em uma parede e no tempo: uma antiga família brasileira e feliz.


7 comentários:

  1. Adorei a foto do grupo familiar.

    É curioso, que em casa da minha avó paterna existia uma dessas fotos a preto e branco, retocada a cores, tirada nos anos 30, da irmã do meu pai e de um outro irmão, que faleceu bebé. Além do factor afectivo, a minha avó tinha um grande orgulho nesta foto, pois tinha vencido um concurso fotográfico com esse retrato, embora fosse ela fosse uma mera amadora. Nem sei qual foi o destino dessa fotografia, que durante anos esteve no escritório da sua casa em Chaves.

    Um abraço

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  2. Uma família feliz, brasileira, e endinheirada, com "a burra cheia de dinheiro". Na sala de minha avó tinha uma foto de alguns filhos dela, meu pai entre eles, lindo e vestido como menina. A moldura era de rádica, muito bonita. Não sei e ninguém sabe onde foram parar aquelas crianças emolduradas.
    Que interessante a história da sua avó!A fotografia já ficando popular.
    Gosto demais dessas fotos de família, passam uma felicidade, uma harmonia... será que havia mesmo?
    Um abraço.

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  3. Jorge

    Quando as pessoas se mandavam fotografar, procuravam sempre passar uma mensagem de prosperidade, dignidade e harmonia. O próprio fotografo se encarregava dessa imagem. Recordo-me de em miúdo ir tirar fotografias a um estúdio de bairro e o fotografo, tirava um pente nojento, que servia para todos e penteava os meus cabelos desalinhados, com um artístico risco ao lado. Colocava-me sempre a carinha a três quartos e eu ficava com um ar enjoado. Ainda hoje odeio esses meus retratos e recuso-me sempre tirar fotografias a três quartos.

    Claro, por vezes havia famílias tão infelizes, que nem os artifícios do estúdio, conseguiam esconder tanta tristeza.

    Um abraço

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    1. Exato, Luís. Fazer uma foto dava status. Repare como o retoque colorido dessa foto é perfeito! Era gente de escol! A um bom estúdio eles foram ou estavam em casa mesmo e com suas melhores roupas.
      As fotos 3/4 eram aquelas de carteiras de identidade e de estudante e ficavam medonhas, o rosto deformado. E tinha as 2/2 miudinhas para serviço de saúde kkkkkk Depois de 18 anos tinha um tal de um paletó imundo que a gente vestia, eu era magérrimo, o paletó enorme kkkkk uma miséria verdadeira kkkk
      Tinha uma moda de tirar 3/4 para dar de recordação kkkk com pequena dedicatória. Uma tia tirou uma dessas com uma rosa de plástico sobre o rosto kkkkk. Só rindo para não chorar.
      O pente nojento, o paletó nojento e a gravata ensebada roçando o cangote, como sofremos! E o meu cabelo que era enorme nos anos 70 e eu fiz um "mafuá", um chignon triste atrás para esconder as madeixas rebeldes de hippie kkkkkkkk
      No primário fiz uma foto com a bandeira do Brasil atrás e morrendo de raiva depois de ter ficado em uma fila enorme de crianças kkkk já tinha passado a vontade de fotografar.
      Quando bateu lá em casa um fotografo e minha mãe nos arrumou, eu e meu irmão, para fotografar, eu adorei, a foto tem um colorido lindo discreto. São várias fotos e em uma delas eu estou com o meu gato - raça brasileira de pelo curto - chiquérrimo da época.
      Uma hora desas escaneio e coloco aqui no blog, que por sinal, tenho postado pouco por uma faltazinha de tempo.
      Luís, você precisa fazer umas fotos 3/4 para presentear! KKKKKKK
      Abraços.

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  4. Muitas fotografias como esta, que apresentou, vinham parar aqui a Portugal e a ideia era mostrar para os parentes portugueses, que ficaram na aldeia miserável atrás das serras, "olha como nós estamos ricos e prósperos aqui no Brasil, enquanto vocês continuam pobres e andrajosos, a lavrar a terra".

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  5. Foi uma realidade, agora são outros tempos, Portugal virou um desejo de muitos daqui do Brasil, foge-se da insegurança, procura-se tranquilidade.
    Meu avó da família Barosa fabricantes de vidros veio para cá e não se deu bem - por quê ele saiu de Leiria e já com 3 filhos se havia a fábrica da família? - essa é a pergunta que me faço e não vou ter resposta. Aqui, trabalhou com o que sabia, mas o que conseguiu foi comprar uma casa no Rio de Janeiro, depois de ter chegado por São Paulo e passado um tempo pela Bahia onde trabalhou na Fratelli Vita, antiga fábrica de cristais.
    Acabei de ler um livro de memórias. Uma família de negociantes ricos da Bahia empregava um pobre jovem português, mas excelente empregado. Foi progredindo na empresa, apaixonou-se pela filha do patrão, o patrão vendo como era dedicado e trabalhador ajeita o casamento dele com a filha e passa a casa de comércio para ele. O casal viveu muito bem, riquíssimos aqui em Salvador. O português era muito bom e ajudava muita gente e, quando a bolsa de Nova Iorque estourou a família ficou na miséria e os amigos não ajudaram. Dois anos depois ele morreu de depressão. A mulher sobreviveu a ele e com os filhos foram morar muito modestamente.
    O português era da família Fernandes Dias e era de Aldeia da Graça, Portugal, para onde voltava sempre em visita.
    Na narrativa não percebi nenhum ressentimento nem mágoa do passado pobre.
    Luís, essa vida é um nó! Prega peças.
    Um abraço de um bisneto de portugueses com muito orgulho.

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    1. Jorge

      O fenómeno de emigração para o Brasil é muito grande e vasto no tempo e as motivações para sair de Portugal eram muitas e variadas. Em primeiro lugar, Portugal era e é um país muito pequeno e densamente povoado e a terra não podia alimentar famílias de 6 ou 7 filhos. O Brasil era a terra das oportunidades e emigrava-se para lá para escapar à miséria ou tentar a fortuna. Fugia-se a um casamento mau ou de dívidas nos negócios ou ainda a perseguições políticas.

      Para o Brasil emigravam pessoas de todos os níveis sociais, mas o maior número era entre os camponeses miseráveis do Minho, Trás-os-Montes ou das Beiras.

      Enfim, não há família portuguesa que não tenha tido um parente que emigrou para o Brasil. Só a partir dos anos 60 do século XX é que a emigração portuguesa se dirigiu para os países europeus, que estavam em plena época de crescimento económico, sobretudo a França, mas também o Luxemburgo, a Alemanha ou a Inglaterra. O número de luso descendentes na região parisiense é tão grande, que se diz que Paris é a segunda cidade de Portugal.

      Desde há uns vinte e tal anos para cá, o fenómeno inverteu-se e as cidades portuguesas estão cheias de brasileiros.

      Enfim, o destino entre Portugal e o Brasil continua a cruzar-se.

      Um abraço

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