sábado, 18 de julho de 2015

As Baianas de Acarajé e os seus Antigos e Lindos Tabuleiros

Desenho de Maria Celia Calmon, artista plástica baiana.

Um dos "Feitiços da Bahia" era aquele que estava contido no pequeno tabuleiro das antigas baianas de acarajé. Pequeninos, apoiados sobre o cavalete e forrados com papel simples, às vezes com bicões recortados ou então, forrados com tecido rendado. 
Não tinham superprodução alguma: venciam pela simplicidade.
No tabuleiro o trivial, ou seja, as iguarias comuns que eram vendidas: o acarajé, o abará, a cocada, a amoda, o doce de tamarindo, a passarinha, o pote de pimenta. E só.
O acarajé era  frito no fogareiro de carvão-calvão- com a chama sempre avivadas pelo abanador de palha de banana e colocados, depois, no canto do tabuleiro em um pratinho fundo. Tanto o acarajé como o abará eram também pequenos. 
Nada de exageros.
As baianas se vestiam sempre de branco, saia e blusa de renda ou enfeitadas com  crivo. O torço muito simples compondo a roupa. 
Nada de exageros.
Durante anos minha avó deu guarida a uma baiana de acarajé que ficava no Largo dos Mares. Pra não ter que carregar todos os dias o tabuleiro e o cavalete, ela pediu a minha avó para guardá-los em casa. Ficavam no fundo, no quintal. 
Dona Neném ficou tão íntima que ela chegava e saía e nem falava com a gente. Já era de casa. 
Às vezes quando o  movimento tinha sido fraco ela deixava em cima da mesa um embrulhinho com os acarajés que haviam sobrado. Mimos de azeite. Uma delícia aquele acarajé!!!!
Dona Neném era calada, não era de muita conversa. À noite quando entrava pra deixar o tabuleiro não dava nem boa noite, kkkkk atravessava a sala -todos assistindo TV -, passava e pronto!. Nos entreolhávamos e comentávamos: -"Não dá nem um Boa Noite!"kkkkkk. Mas entendíamos, ela e o filho entravam já morrendo de sono, os dois se arrastando, coitados. Mortos de cansaço.
Naquela época era ela que fazia a massa do acarajé, cozinhava o abará e fazia e todo o resto. Era uma trabalheira. 
Hoje muitas compram a massa pronta na feira de São Joaquim! Há pouco tempo eu soube disso e não quis acreditar, mas é verdade! 
E outro dia comprei um abará que veio enrolado em papel alumínio. Argh!!!! Argumentei que a palha da banana dá gosto à massa.
A baiana não me deu resposta.



Dona Neném era assim, como essa linda baiana "de época". Só que era magrinha, franzina.



A foto é da abertura do capítulo sobre comidas baianas do livro de Isaura Bruno, Mamãe Dolores. Reservei a foto pra colocar aqui nesta página que vai ficar em aberto, o que rolar de baiana de acarajé, coloco aqui.



 Foto que já coloquei aqui e que é de um livro do Governo da Bahia dos anos 60. 
Eu arrastão de mim.


 Google.

Baiana de Dorival Caymmi. Google.


 Baiana de Itaparica. Anos 70.


Duas fotos de Voltaire Fraga.

 Baiana linda e os bordados em crivo que viravam rendas estupendas feitas em morim e em madrasto, tecidos de algodão simples que depois de desfiados e reagrupados se transformavam em uma renda que dava mais beleza ao vestuário das baianas.




Desenho de Paulo Werneck.

 Revista O Cruzeiro de 1942 com texto belíssimo de Gilberto Freyre.
O desenho de capa é de Arcindo.


 Ganhei esta revista do amigo Heraldo que tem uma página excelente sobre a Bahia no Facebook, "Bahia, Memórias e Encantos".
Muitos acarajés pra você!








Ilustração de Arcindo.

Ilustração de Cortez.












Baiana no Porto da Barra nos anos 70, ainda com um pequeno tabuleiro de madeira que, às vezes, era recortada em ondinhas como se fosse um bico. Ali no pequeno espaço era colocado tudo, o acarajé, o peixe frito, a passarinha, o vatapá pra colocar no acarajé e no abará, o molho de pimenta e a cocada. O abará ficava em uma panela do lado oposto ao fogareiro onde se fritava o acarajé. Este fogareiro era feito de lata de banha ou de tinta e, em cima dele, em vez da frigideira grande, ela usava uma bacia, aliás costume que se mantém até hoje.




Desenho de Lênio Braga para  a capa da primeira edição do livro A Cozinha Baiana de Hildegardes Vianna em 1955. O mesmo desenho foi usado nesta reedição de 1987.


Abaixo, duas fotos de Erich Hess que está no livro Isto é a Bahia! editado pelas Edições Melhoramentos em 1952.



Abaixo, duas capas de livros salvadas do Google.




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